Um dia após a data de comemoração da consciência negra, dia 21, houve um fato na UAG-UFRPE que deixou a comunidade acadêmica indignada: Um jovem entrou em um dos laboratórios de informática da UAG para acessar a internet. Ao perceber que o mesmo não era um estudante da unidade, a instituição acionou a segurança, que o abordou em tom de arrogância, segundo estudantes que estavam presentes no laboratório. O jovem, de nome Felipe, tentou se defender alegando que não fazia nada de errado, que era uma pessoa de bem e que só estava ali para acessar a internet, com urgência, e que não estava cometendo nenhum crime. Poucos minutos depois, a polícia militar apareceu na UAG, colocou sua viatura em uma das passarelas, onde passam estudantes de um prédio a outro, entrou no laboratório, agredindo o rapaz na frente de vários estudantes, levando o jovem algemado.
Ao tentarem colocá-lo dentro da viatura, o rapaz se proclamou inocente na frente de todos, alegando que estava sendo vítima de discriminação social e racial. Logo após isso, os policiais o mandaram calar a boca e afirmaram que “a constituição não valia de nada e se Dilma levou na cara na ditadura, quem seria ele para não apanhar?”, batendo novamente na cabeça do jovem com um capacete de ciclista (vários vídeos foram feitos do ocorrido).
Todos ficaram abismados com a truculência e o modo de resolver o caso, deixando claro que se tratava de um caso de discriminação. Minutos depois, para justificar a sua truculência, os policiais afirmaram que o andarilho estava traficando drogas dentro da universidade e por isso representava um grande perigo. Para a nossa surpresa, quando os policiais foram revistar as coisas dele, que estavam em sacolas numa bicicleta estacionada, foram encontradas apenas frutas, como mangas, e laranjas, em outra, roupas, livretos de cordel e rabiscos. "Eu sou poeta cordelista", afirmou o jovem, já algemado.
É evidente que a UAG precisa de mais segurança, uma segurança que receba as instruções de como intervir em cada caso. Reivindicamos segurança várias vezes, aqui na UAG, em meio a tantos assaltos que já aconteceram, como no ano de 2011, onde o movimento Resistência organizou uma audiência pública na câmara de vereadores de Garanhuns para solicitar segurança para o campus e iluminação.
O que realmente indigna a comunidade acadêmica da UAG é o fato da polícia nunca estar “à disposição” quando realmente se precisa, como no caso do entorno da unidade que fica desprotegida durante a noite, por exemplo, e já foi motivo de várias queixas dos estudantes, técnicos e professores. Outra preocupação é com a segurança interna da universidade: ao mesmo tempo em que permite a entrada de pessoas sem uma identificação, não está preparada para certos tipos de situações, como essa. Constrangimento maior teria sido evitado se houvesse uma comunicação real entre a comunidade, a diretoria do campus e a segurança. Se ele foi utilizar a internet, quem o autorizou quem procurou o rapaz para lhe liberar (ou não) ao uso do laboratório de informática da UAG? Por que o jovem não poderia utilizar a internet da instituição, sendo ela uma universidade publica?
Outras questões que levantaram polêmica, além da repressão policial e a clara discriminação social e racial, é como a universidade lida com diversos ocorridos. Em 2011 o estudante da UAST, Cloves Silva, na época diretor do DCE-UFRPE, foi levado pela polícia após dirigir um ato na unidade acadêmica de Serra Talhada pela continuação das obras paradas. O estudante foi detido e acusado, após a própria direção chamar a polícia. Não podemos deixar passar que a nossa universidade ainda possui vários resquícios da ditadura militar, prova maior são seus estatutos, inda da época dos generais da ditadura. Talvez, se o jovem fosse branco, estivesse com um carro ao invés de se negro e estar com uma bicicleta ele não teria passado por tudo isso.
O movimento Resistência na UAG e os estudantes exigem uma resposta por parte da polícia e da administração da UFRPE. Até quando iremos ver esse tipo de situação acontecer com nossos jovens no país? Não podemos aceitar que a cor da pele ou a aparência sejam critérios para se decidir quem é ou não bandido nem sirva de pretexto para reprimir a juventude. Já basta ver a truculência como a polícia trata os estudantes quando organizam alguma manifestação, como ocorreu na USP recentemente ou como no caso da extrema violência como no caso do Amarildo, no Rio de Janeiro. Repudiamos esse tipo de abordagem, a falta de diálogo e todo e qualquer tipo de discriminação social e racial dentro de nossa universidade.
Fonte: Isadora Alves, estudante de Agronomia da UAG e diretora da UEP
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